CVP em Évora, a abrir caminho!






As intervenções preventivas constituem um dos eixos essenciais de qualquer estratégia nacional de controlo da problemática da toxicodependência. A prevenção deve ser entendida como uma atitude pró-activa em que além de se antecipar o reconhecimento da ocorrência de uma situação específica, também se procura, por meio de algumas acções evitar a sua continuação.

Tendo por base o diagnóstico elaborado pelo Centro de Respostas Integradas de Évora, verifica-se que no âmbito da prevenção não existem respostas estruturadas e articuladas, para além de algumas intervenções pontuais desenvolvidas pelas Escolas na área da educação para a saúde, justificando-se, portanto, o aumento do número de respostas, ao nível da prevenção selectiva e indicada, especialmente tendo em consideração, as características específicas da população e respectivos contextos.

A iniciação e os níveis de consumo de drogas são determinados por um conjunto de valores, expectativas e padrões de comportamento influenciados pela estrutura sociocultural de pertença da criança/jovem. Considerando essas influências socioculturais, verifica-se que o significado atribuído à droga é determinado pela extensão, frequência e características do comportamento de utilização de drogas na adolescência.

O desenho do projecto que nos propomos realizar tem presentes os princípios de territorialidade (tocando todos os territórios que o diagnóstico do IDT identificou como problemáticos e chegando aos sujeitos/grupos-alvo que se pretende atingir), integração (porque se vê a realidade diagnosticada como sendo algo mais do que a soma das partes; ou seja, com este projecto consegue-se uma visão de conjunto das várias dimensões dos consumos de substâncias, havendo a preocupação de articular estrategicamente as acções que os combatem, por forma a que exista uma interacção “glocal”, isto é, pensar e agir tendo em consideração a estrutura global de enquadramento, mas a percepção fina do local onde a acção se desenrola), parceria (com a rede de entidades mobilizadas para o projecto pensamos construir uma complementaridade técnica e financeira assente nos pressupostos de cada entidade; havendo, subjacente, uma lógica de horizontalidade, cooperação e responsabilidades partilhadas) e participação (para o sucesso futuro do projecto é necessário analisar as condições de canais e tradições existentes, o clima externo, as circunstâncias materiais e a dinâmica interna da situação).

Considerou-se, então, que a concretização no terreno dos conceitos de empowerment (no sentido de reunir sinergias dentro dos territórios, para seu próprio benefício) e de formação inter-pares (como forma mais empática, eficaz e eficiente de chegar ao real cerne da problemática) são pilares para fazer funcionar projectos desta natureza, envolvendo a tipologia de população identificada em diagnóstico.

O projecto de prevenção “Abrir Caminho” é constituído por 9 acções-chave a serem desenvolvidas ao longo de vinte e quatro meses.

O primeiro objectivo geral a atingir passa por implementar programas de desenvolvimento de competências pessoais e sociais em meio escolar, através de sessões de sensibilização/esclarecimento e formação inter-pares, de forma a prevenir e reduzir os riscos associados aos consumos de SPA. As estratégias a utilizar para cumprir o referido objectivo são:

1. Dinamização do projecto da Juventude Cruz Vermelha Portuguesa de prevenção selectiva “Copos, Quem decide és tu!”, em contexto escolar. O objectivo deste Projecto visa sensibilizar os jovens, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos, para as problemáticas associadas ao consumo excessivo e precoce de bebidas alcoólicas.

2. Dinamização do jogo “Eu e os Outros”, do Instituto da Droga e Toxicodependência, igualmente em contexto escolar, contando com o apoio dessa mesma comunidade. No decurso do jogo, acompanhar-se-á o desenvolvimento de três histórias de jovens face a desafios como o crescimento, os amigos, a família, os amores e as paixões, a escola e o divertimento, sem esquecer a projecção para o futuro, o consumo de substâncias psicoactivas e a lei existente em Portugal.



3. Momentos de formação de agentes de prevenção será a acção de prevenção universal privilegiada para proporcionar informação específica a grupos de jovens que, no terreno, em conjunto com a Equipa Técnica do projecto, farão intervenção inter-pares (assumindo a figura-chave de “tutores”) – dado considerar-se a forma mais eficaz e eficiente na passagem de informação fulcral a este tipo de grupo-alvo. Para alcançar aquele objectivo e cumprir esta estratégia, pretendemos recrutar e formar jovens voluntários – aproveitando a estrutura pré-existente ao nível da Juventude da CVP; estes elementos deverão acompanhar a Equipa Técnica do projecto em diversas acções e desenvolverão uma relação próxima, empática e de amizade com os jovens que o projecto apoiará.

Como segundo objectivo geral identificamos a criação de mecanismos de esclarecimento, apoio, atendimento e encaminhamento de e para jovens, onde se promovem competências pessoais e sociais, ao mesmo tempo que se esclarecem dúvidas acerca dos consumos de SPA’s por técnicos formados para o efeito – o que será concretizável através das seguintes estratégias/acções do projecto:

4. Criação e manutenção do Blog do projecto que será o veículo privilegiado de comunicação com a comunidade em geral e, assim, estratégia de prevenção universal reforçadora do objectivo geral identificado. O espaço terá como conteúdos privilegiados: informação credível (científica), mas acessível a todos, relativamente a consumos de SPA, suas consequências a curto, médio e longo prazo; focará, igualmente, dúvidas que sejam colocadas noutras acções do Projecto “Abrir Caminho”.

5. Promoção de um Ponto de Apoio que, na prática, será um gabinete de atendimento, apoio, encaminhamento e acompanhamento individual e confidencial – como estratégia de prevenção indicada. Pretende-se que seja um espaço aberto à população escolar (alunos, professores e educadores), com um técnico sempre disponível para esclarecer dúvidas relacionadas com consumos de substâncias; é neste Ponto de Apoio que se receberão referenciações de jovens e onde será realizado o respectivo acompanhamento ao nível do apoio na construção de um percurso de vida saudável, assente no seu desenvolvimento pessoal, social e profissional. Da interacção promovida por este espaço poderão surgir actividades que os beneficiários pretendam executar como forma de ser e estar alternativa aos comportamentos aditivos (ateliers de expressão plástica e/ou dramática, desportos, etc.). Dos acompanhamentos que o técnico da área social fizer no Ponto de Apoio (e nos casos em que tal se justificar) resultarão processos de articulação com outras entidades de molde a construir um percurso formativo mais motivador para o jovem; incluindo, neste processo, a figura de “tutor”, que será um dos agentes de prevenção que o projecto formar para intervenção ao nível da prevenção inter-pares. O técnico do projecto estará em cada escola parceira um dia por semana, para receber jovens, mas também educadores, encarregados de educação e professores. O sucesso desta acção estará na mão dos diversos parceiros e do modo como efectivamente se articularem – desde as entidades de natureza formativa, como as de intervenção na área da saúde, mas também aquelas que se envolveram para contribuir com ofertas ao nível do apoio social e lúdico-pedagógico.

6. Dinamização do Ponto Móvel de Contacto que se pretende que esteja nos locais de diversão nocturna, em datas pré-definidas e, necessariamente, em que exista maior tendência ao consumo de substâncias. Este espaço oferecerá: informação esclarecida (no sentido de ter base científica) e objectiva, relativamente a consumos, a comportamentos de risco e consequências dos mesmos; rastreios de glicemia, peso, tensão arterial e alcoolemia. A viatura estará estacionada em locais-chave da noite eborense e em festas académicas; terá, ainda, a mais-valia de ter sempre um técnico da área social (psicólogo e/ou assistente social), agentes de prevenção (jovens com formação em prevenção) e socorristas da Equipa de Apoio de Socorro e Transporte da Delegação de Évora da CVP – como forma de garantir uma resposta completa aos beneficiários do projecto (desde o apoio social ao socorrismo, se disso houver necessidade). Este Posto Móvel de Contacto deverá, também, fazer a ponte de ligação para os serviços dirigidos à comunidade que a Delegação de Évora da Cruz Vermelha Portuguesa possui.

Por último, o terceiro objectivo geral passa por reduzir factores de risco e reforçar factores de protecção através do desenvolvimento de competências pessoais, sociais e parentais – enquanto se envolve a comunidade de forma directa e sustentável no tempo. Este objectivo é exequível através das seguintes estratégias/acções:

7. A realização de espaços de “ATL de férias” será uma forma de prevenção selectiva que consta da integração no Projecto “Abrir Caminho” de um espaço pré-existente nas respostas da CVP à comunidade eborense e que manterá o seu trabalho nos períodos de paragem escolar de Natal, Páscoa e Verão. Com esta acção, promover-se-ão actividades lúdico-pedagógicas, sem esquecer as actividades de risco controlado, como forma de passar a mensagem de estilos de vida saudáveis, não descurando as regras, a criatividade, a autonomia, mas também a entre-ajuda e a capacidade de gerir conflitos.

8. Implementação do projecto da Juventude Cruz Vermelha Portuguesa “Colorir o Sábado” como forma de prevenção selectiva, mas também como modo de ocupar as tardes de sábado das crianças e jovens beneficiários do projecto. Este espaço promoverá as competências pessoais e sociais, através de actividades lúdico-pedagógicas, desporto, passeios pedagógicos, etc. – trabalhar-se-á a auto-estima, o auto-conceito, o controlo de impulsos, a capacidade para gerir conflitos e emoções das crianças beneficiárias.

9. Promoção de Tertúlias mensais, nas várias escolas parceiras do projecto e onde se pretendem debater temas relacionados com comportamentos de risco e consumos de substâncias, tendo como público-alvo específico os pais, encarregados de educação, professores e auxiliares que lidam com os jovens. Nesta acção, os convidados para o espaço de debate serão escolhidos consoante a temática a ser abordada e devem ocorrer no período horário que for mais conveniente aos beneficiários directos. Este espaço pode, ainda, operacionalizar-se através da passagem de um filme ou documentário e consequente debate sobre a temática alusiva. Tratar-se-á de um espaço livre de preconceitos e de juízos críticos; o importante é a troca de ideias, dúvidas e informações relevantes para o esclarecimento de questões que surgem associadas aos consumos aditivos.

Porque a humanidade é um dos nossos sete princípios fundamentais a ter em conta nas intervenções e para que os adultos de amanhã sejam pessoas com qualidade de vida, espírito crítico e com competências pessoais e sociais adequadas é necessário trabalhar ao nível da prevenção, de forma a colaborar na construção de uma juventude responsável e de sucesso – pensamos que, só através de situações positivas e construtivas, os jovens podem “Abrir Caminho” nas suas vidas.

Évora já tem Núcleo Territorial do Programa de Respostas Integradas

Assinou-se, dia 11 de Fevereiro, na sede da Cruz Vermelha Portuguesa em Évora, o Compromisso de Colaboração entre as Entidades que constituem o Núcleo Territorial do Programa de Respostas Integradas do território Évora – Freguesias Urbanas, concretamente: o Centro de Respostas Integradas de Évora, a Câmara Municipal de Évora, a Polícia de Segurança Pública, o Instituto Português da Juventude, o Centro de Saúde de Évora, a Associação Menuhin de Portugal, o Agrupamento de Escuteiros 890, a Associação Académica da Universidade de Évora, o Agrupamento de Escolas da Malagueira, a Escola Secundária André de Gouveia, a Escola 2/3 André de Resende, a Escola Secundária Gabriel Pereira.

Aproveitando o dia em que se comemorou o 145º aniversário da Cruz Vermelha Portuguesa, a Delegação chamou a si o conjunto de parceiros que terão presença constante e trabalho diário no cumprimento dos objectivos desenhados no Projecto “Abrir Caminho”, no âmbito Programa de Respostas Integradas do Instituto da Droga e Toxicodependência.

A parceria, a participação, a integração e a territorialidade são princípios estratégicos que foram constituindo um património comum que orienta a grande maioria das actuações e projectos que pretendem actuar em problemáticas de carácter multidimensional, como é o caso das drogas e dos seus tipos e padrões de consumo.

A Cruz Vermelha Portuguesa considera que a elaboração de projectos preventivos visa promover experiências positivas, relacionadas com o desenvolvimento salutar dos adolescentes, tendo em atenção que a adolescência é uma época de vida crucial à turbulência de manifestações comportamentais e atitudinais em estreita ligação com a influência e as pressões que o adolescente sente por parte da sociedade, nomeadamente do grupo de pares.

Assim, a qualquer momento poderão contactar com o Projecto “Abrir Caminho” da Cruz Vermelha Portuguesa – Delegação de Évora, quer em meio escolar, quer em contextos de animação nocturna, quer ainda no espaço virtual da internet, encontrando acções como: a dinamização do Projecto da Juventude Cruz Vermelha Portuguesa “Copos, Quem decide és tu!”; a dinamização do jogo “Eu e os Outros”; a formação de agentes de prevenção; o Blog do projecto; o Ponto de Apoio nas escolas e no Centro Comunitário da CVP; o Ponto Móvel de Contacto; o “ATL de férias”; o Projecto “Colorir o Sábado” e as Tertúlias mensais.

Dado que a humanidade é um dos sete princípios fundamentais que Cruz Vermelha Portuguesa tem em conta nas intervenções que realiza e para que os adultos de amanhã sejam pessoas com qualidade de vida, espírito crítico e com competências pessoais e sociais adequadas é necessário trabalhar ao nível da prevenção, de forma a colaborar na construção de uma juventude responsável e de sucesso – pensamos que, só através de situações positivas e construtivas, os jovens podem “Abrir Caminho” nas suas vidas.